quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Porque eu sou e não sou gentil

A Helô me fez uma homenagem emocionante neste post que eu posso ouvir agora.
O disco escolhido por ela não podia ser melhor. Eu ia fazer 11 anos quando ele foi lançado. Com um pouco de imaginação eu posso ser visto, "feliz como um pinto no lixo", entre as árvores, bem no topo das montanhas de Niterói que servem como fundo para a capa sensacional.
Para demonstrar minha gratidão eu garanto que tenho feito o que posso para tentar ser gentil.
Não que eu seja um desses devotos fiéis do Profeta Gentileza, que também percorria estas paisagens na década de 70.
Digamos que, numa impensável batalha entre os grosseirões e os gentis, o Profeta e eu provavelmente estaríamos do mesmo lado. De fora, tentando acabar com a guerra.
(Na prática, em "tempos de paz", e só pra provar como eu posso ser cruel, eu não me sentia muito bem quando ele grunhia e ameaçava com o fogo do inferno as moças que passavam por nós nas barcas com calças compridas, ou com um vestido mais curto ou com um decote mais ousado.)
***
Já que a Helô e eu não nos conhecemos pessoalmente, minha vaidade me impele a acrescentrar um dado biográfico, com a desculpa de que ela pode se sentir um pouco aliviada do possível erro de tomar uma imagem gentil por uma pessoa gentil. Nos grupos que eu freqüento, eu costumo demonstrar meu desconforto quando o assunto descamba, por exemplo, para a maledicência. Uma colega sempre se lembra de dizer em tom brincalhão, mas falando sério: "O Nando é muito bonzinho. Ele não gosta de falar mal de ninguém."
(Meu argumento, nestes casos, é simplório e não serve como justificativa para as atitudes criticadas. Eu costumo dizer que a vida está difícil pra todo mundo e que cada um se vira como pode.)
***
Mas a verdade é que eu conheço as minhas limitações.
Além das montanhas da capa fica a Serra da Tiririca, na divisa de Niterói com Maricá, onde eu gosto de passear sozinho. Não é recomendável e eu procuro ser cuidadoso. Ainda assim, alguns encontros inesperados são inevitáveis.
Uma bela manhã de primavera um beija-flor bem pequenininho insistiu em esvoaçar junto ao meu ouvido direito. Ele não poderia ser confundido com um mosquito que gosta de fazer o mesmo (mosquitos me adoram!), tanto pelo tamanho como pelo ruído que produzia com suas asas frenéticas: um ronco surdo que poderia sair da garganta de uma jaguatirica.
De raro em raro, há também bandos de micos. Sem esquecer as cobras, mas nunca me ocorreu pedir a elas qualquer tipo de identificação.
Em geral, porém, estes animais são dotados de bom senso e evitam maiores aproximações. Quando eles se aproximam muito, porém, eu procuro afastá-los da maneira mais gentil possível. E tenho sido bem sucedido nisso quando aviso: "Cuidado, amiguinho. Talvez você não tenha notado, mas eu sou um ser humano."
Valeu, Helô!
O que eu posso dizer, além de agradecer e garantir que eu vou continuar tentando?

2 comentários:

Helô Lima disse...

Nando
Que tal a gente trocar gentilezas no lançamento do livro da Fal?
Certamente estarei lá.
Lindo post!
Beijos.

Unknown disse...

Helô,
Será um prazer. Eu também não quero perder a ocasião. A oportunidade será ótima.
Obrigado.
Um beijo do
Nando

Onde me encontrar