In Madame Tussaud Posted on: Fri, Oct 24 2008 10:22 AM
Agora posso falar. Eu li. Li onde para mim seria seguro ler. Num final de semana lindo, cheio de sol, de amor, de carinho. Na rede, tomando caipirinha de maracujá. Eu sabia que sem essa armadura toda, correria risco de vida (maior). Afinal, olhar o que se mais teme na cara não é algo que se faça desassistido.
Pois é. A Fal, o livro. Eu nunca tive dúvida. O que faz dela uma escritora única, magnífica, irrepetível é o talento que ela tem para reunir numa frase, ou duas, o histórico psiquiátrico de alguém. Assim como Machado de Assis fazia isso descrevendo a aparência dos seus personagens, Fal reúne tudo numa circunstância e numa maneira de reagir a um acontecimento, ao modo daquela pessoa de ver o que se passa. Numa frase, ela nos situa sobre o mais importante: você sabe (na verdade, você sente) quem é aquela pessoa, nos colocando dentro de sua alma.
Sua protagonista não tem esse nome por acaso.
Mas a mágica da Fal vai mais além. Como a gente sente aquele flash de vida, sem que o rosto do fotografado seja muito nítido, o fotografado, no mais das vezes, é você mesmo, ou alguém que você conhece tanto e tão dolorosamente bem que não podia suspeitar que mais alguém no mundo também conhecesse. E Fal conhece. A você, e a todos os outros, porque conhece o essencial no ser humano: suas dores e sua (in)capacidade atávica de lidar com elas.
Minúsculos assassinatos também não tem esse nome por acaso. Lá está uma coleção de bons e maus assassinos e assassinados, de dores que morrem e ressuscitam, de esperanças mortas de morte morrida, de morte matada ou que sobrevivem com alguma dificuldade. Só não há vítimas, incrivelmente. (Incrivelmente?)
Qualquer semelhança com fatos ou pessoas reais que Fal nunca encontrou, nem sabe que existe, acredite, não é mera coincidência. É fruto do talento único dessa incrível escritora para entrar dentro da alma da gente. Leia com cuidado.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário