MONÓLOGO DE UMA SOMBRA
Augusto dos Anjos (Cruz do Espírito Santo, 20 de abril de 1884 — Leopoldina, 12 de novembro de 1914)
“Sou uma Sombra! Venho de outras eras,
Do cosmopolitismo das moneras...
Pólipo de recônditas reentrâncias,
Larva de caos telúrico, procedo
Da escuridão do cósmico segredo,
Da substância de todas as substâncias!
A simbiose das coisas me equilibra.
Em minha ignota mônada, ampla, vibra
A alma dos movimentos rotatórios...
E é de mim que decorrem, simultâneas,
A saúde das forças subterrâneas
E a morbidez dos seres ilusórios!
Pairando acima dos mundanos tetos,
Não conheço o acidente da Senectus
-- Esta universitária sanguessuga
Que produz, sem dispêndio algum de vírus,
O amarelecimento do papirus
E a miséria anatômica da ruga!
Na existência social, possuo uma arma
-- O metafisicismo de Abidarma --
E trago, sem bramânicas tesouras,
Como um dorso de azêmola passiva,
A solidariedade subjetiva
De todas as espécies sofredoras.
(...)"(A foto de A.A. foi copiada daqui, bem como a sugestão do trecho citado. O poema completo pode ser lido aqui. Há divergências entre as versões. O trecho foi copiado do .pdf que pode ser baixado aqui, por exemplo.)
Talvez seja oportuno baixar a bola e começar a decorar estas:
VOZ INTERIOR
Bastos Tigre (Recife, 12 de março de 1882 — Rio de Janeiro, 1 de agosto de 1957)
Quem sou eu? De onde venho e onde, acaso, me leva
o Destino fatal que os meus passos conduz?
Ora sigo, a tatear, mergulhado na treva,
ou tateio, indeciso, ofuscado de luz.
Grão, no campo da Vida onde a morte se ceva?
Semente que apodrece e não se reproduz?
De onde vim? Da monera? Ou do beijo de Eva?
E aonde vou, gemendo, a sangrar os pés nus?
Nessa esfinge da Vida a verdade se esconde;
o espírito concentro e consulto a razão
e uma voz interior sincera, me responde:
- "Quem és tu? Operário honesto da nação.
- De onde é que vens? De casa - Onde é que estás? No bonde.
- Para onde vais? Não vês? Para a Repartição".(O soneto foi copiado daqui.)
EGOÍSMO
Bastos Tigre (Recife, 12 de março de 1882 — Rio de Janeiro, 1 de agosto de 1957)
É por meu próprio bem que eu quero o bem alheio;
Porque busco ser bom é que me torno egoísta,
Pois, a todo momento, olhando o mundo, anseio
Transformar em prazer o que me passa à vista.
O pranto me horroriza, os lamentos odeio,
Apavora-me a dor que os corações contrista;
Quanto o prazer é belo, o sofrimento é feio,
À luz espiritual do meu senso de artista.
E jamais direi "não" a quem meu "sim" procura;
Compelido a julgar, prefiro ser mau juiz,
A criar com o castigo uma nova amargura.
E se a alguém já fiz mal, a mim mesmo é que o fiz;
Pois é, do meu egoísmo, a suprema ventura
Ver, em redor de mim, todo mundo feliz.(Copiado daqui, com direito a uma audição da Serenata de Schubert.)
Né não?
Nenhum comentário:
Postar um comentário