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O pessoal de uma música só

Por JOSÉ TELES, crítico musical do Jornal do Commercio

via JC OnLine - Notícias em 13/11/08

João Evangelista de Melo Fortes, é um nome que poucos vão saber de quem se trata. Mais gente certamente lembra de João Só, seu nome artístico. O piaueinse João Só, começou a carreira de cantor e compositor na Bahia, e estourou em 1970, com Menina da ladeira, um dos maiores sucesso daquele ano. João Só, parecia estar implícito no nome, só teve este hit. Quando ele morreu em 1992, saíram algumas notinhas em jornais e revistas, só.

João Só enquadra-se na classificação a que os americanos batizaram de one-hit wonders, fenômeno muito comum no universo da música pop. Outro dia, liguei a TV num domingo, bem cedinho, e quem estava na telinha? Dudu França. Pra quem não lembra, ou não era nascido quando Dudu estava na ativa, no final dos anos 70, fase da disco brasileira, o cara fez sucesso com Lelé da cuca. Deve ter ficado lelé da cuca por só ter emplacado este sucesso. Neste dia na TV, ele cantava num programa de crente, a mesma música, só que agora rebatizada de Cristo na cuca.

No Brasil não se dá muita bola para o one-hit wonder. As vezes lembram-se deles. A Afrodite se Quiser, por exemplo, trio feminino, que lançou dois álbuns mas só emplacou uma única faixa, O que é que ela tem que eu não tenho? Ou também outra banda feminina, a Sempre Livre, que nunca parou nas paradas com Eu sou free. Ou, para ficar nos anos 80, fértil em one-hit wonders, Sylvinho, ou melhor da banda da qual ele era vocalista, a Absyntho, da impagável Ursinho blau-blau?

A coisa é levada a sério lá fora. Tem inúmeras compilações de one-hit wonders. Uma "maravilha de um sucesso-só" que sempre me vem imediatamente à lembrança, é a belga Jeanine Deckers, ou melhor a madre Luc Gabriel. Em 1963, ela se tornou conhecida internacionalmente como Soeur Sourire, ou Irmã Sorriso (nos Estados Unidos era chamada de The singing nun (a freira cantora), pelo hit Dominique, que ela canta acompanhando-se ao violão. A música feita pela freira, sem a menor pretensão, para louvar São Domingo (ela era da ordem dos dominicanos), acabou chegando às mãos de um executivo da EMI, que a lançou em disco. Foi um sucesso estrondoso (no Brasil também em uma versão cantada pela desaparecida Giane). Soeur Sourire chegou a cantar no célebre Ed Sullivan show (numa gravação, feita no convento, na Bélgica).

No entanto Soeur Sourire não conseguiu administrar o sucesso. Em 1966, ela deixaria o claustro, para viver com uma moça chamada Anna Pécher. Em 1967, a ex-freirinha quase consegue outro sucesso com Glory be to God for the golden pill (Glória a Deus pela pílula dourada), um libelo a favor dos anticoncepcionais. Daí em diante, somente duas vezes Jeanine Deckers seria badalada pela imprensa. A primeira, quando, no início dos anos 70, o imposto de renda belga caiu em cima dela, cobrando-lhe o equivalente a 63 mil dólares de impostos não pagos (todo o dinheiro que ganho com Dominique, doou ao convento). A outra, em 1985, quando ela e a companheira, num pacto de morte, suicidaram-se com uam superdose de barb... [continuar a leitura no bilhete original.]

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