Enviado para você por Fernando através do Google Reader:
via ARQUIVO DE ARTIGOS ETC de Artigos em 01/11/08Brasília tem pouco ou nada a ver com a renúncia de Jânio Quadros, que abriu o caminho para os 21 anos da mais longa ditadura da nossa tumultuada crônica republicana. Como não tenho a pretensão de fazer História, guio-me pelos passos das pernas curtas e rápidas do meu saudoso amigo Carlos Castello Branco, titular desta coluna no JB , até seu último dia de vida, e que foi assessor de imprensa de Jânio, além de ser o maior repórter político da minha e de todas as gerações.
Nas 132 páginas do seu insubstituível livro A renúncia de Jânio, na edição de 1996 da Editora Revan, o Castelinho disseca a renúncia com a isenção do repórter, a sagacidade do analista e o texto do escritor e acadêmico. Começa depondo desde a manhã do dia 25 de agosto de 1961. Depois da noite insone, um funcionário do Palácio do Planalto sussurrou-lhe que algo ocorria: José Aparecido de Oliveira, secretário particular do presidente, ordenara-lhe retirar documentos importantes e arrumar toda a papelada. Pouco depois, chegou Aparecido e deu a notícia: o presidente renunciou. Já está voando para São Paulo.
Jânio telefonara às cinco da manhã a Quintanilha Ribeiro, chefe da Casa Civil, e anunciou que tomara uma decisão. Pediu que seguisse para o Palácio e convocasse o general Pedro Geraldo, chefe da Casa Militar. Ambos foram comunicados da renúncia.
De volta ao gabinete do Planalto, reuniu os cinco para as sumárias explicações: "Renunciarei agora à Presidência. Não sei assim exercê-la". E finaliza, caprichando na ênfase: "Ela me diz que a melhor fórmula que tenho, agora, para servir ao povo e à pátria, é a renúncia".
Jânio convocou os ministros militares para a comunicação oficial. Pouco depois chegam ao gabinete os ministros da Guerra, general Odílio Denys, da Marinha, almirante Sílvio Heck, e da Aeronáutica, brigadeiro Grum Moss. Jânio repetiu em poucas palavras o relato aos secretários e ao ministro da Justiça.
O brigadeiro Moss tentou o apelo ao bom senso: "Presidente, não faça isso". No que foi secundado pelo almirante Heck: "Este é o maior golpe que sofro na minha vida". O general Denys foi mais longe: não faltava ao presidente o apoio das Forças Armadas, que ali estavam na pessoa dos seus chefes para prestigiá-lo e obedecer a suas ordens. Entendia as dificuldades, mas o presidente devia saber que "esse moço" (clara referência a Carlos Lacerda) é assim mesmo. O marechal Denys pediu que o presidente ordenasse as providências, que elas seriam tomadas: intervenção na Guanabara, fechamento do Congresso. E entrou direto no ponto crucial que desencadearia a crise militar: o governo da República não poderia passar às mãos de João Goulart. Acontece o inacreditável: Jânio intervém e cala os ministros: "Poupem-nos esses constrangimentos, quando nada em homenagem ao meu gesto. Minha decisão é definitiva".
Ora, se os três ministros militares tinham a plena convicção de que a renúncia, sem explicação minimamente verossímil, lançaria o país no torvelinho de uma gravíssima crise, com risco de uma guerra civil, e eles ali estavam com a responsabilidade de preservar a ordem pública e o regime democrático, era transparente a prioridade de, a qualquer preço, evitá-la até as últimas conseqüências para cortar pela raiz a manobra golpista.
Desde o crescente apelo até a virtual detenção do presidente desmiolado. Ou do apelo ao Congresso para não conhecer o documento presidencial antes de um exame de sanidade mental. Se o constrangimento dos ministros é compreensível, a clara percepção da crise militar e política que a fuga de Jânio deixaria como herança exigia e justificava a crescente reação que impedisse a jogada tantas vezes executada como governador de São Paulo. Desde a clara recusa à renúncia, por decisão dos três ministros, ao cerco militar do Palácio para evitar a fuga pela porta dos fundos.
Nunca a passividade, a rendição, o aturdimento da surpresa.
Mais tarde, o bravo senador João Agripino, da UDN paraibana, confessou que procurou encontrar o ministro da Justiça, Pedroso Horta, para tentar pegar o papelucho da renúncia e sumir com ele.
E teria mudado o curso da História.
Mas a nossa conversa não termina aqui.
Coisas que você pode fazer a partir daqui:
- Inscrever-se no ARQUIVO DE ARTIGOS ETC usando o Google Reader
- Comece a usar o Google Reader para manter-se facilmente atualizado com todos os seus sites favoritos
Eu tinha nove anos nesta época. Meu pai havia falecido dois anos antes e, na campanha presidencial do ano anterior, minha mãe permanecera fiel a ele e fez campanha pela espada do PSD, do Marechal Lott, contra a gozação dos amigos que empunhavam a vassoura de Jânio.
Teria feito alguma diferença? Havia realmente alguma diferença significativa entre a espada e a vassoura? Entre a cruz e a caldeirinha?
A culpa pode ser fruto da criação judaico-cristã. O sentimento de impotência é permanente.
Para respirar, escolher uma gravação e ouvir (ou cantar) 3.675 seguidas o Cantigas para voar ("Azulão"), de Vital Farias. A da Elba Ramalho, no CD duplo Solar, é perfeita. Também dançada aqui:
Nenhum comentário:
Postar um comentário